De onde viemos, para onde vamos e por que seguimos escolhendo o mesmo de sempre?
- Frederico Honório
- 13 de set. de 2024
- 7 min de leitura
Epigenética e Escolhas Emocionais: Heranças Invisíveis Que Guiam Nossas Decisões

Você sabia que as emoções que você sente e as escolhas que faz podem ser uma herança dos seus antepassados e não tem propriamente a ver com a "genética convencional"? A epigenética explica como traumas e experiências emocionais podem ser transmitidos de geração em geração, mesmo sem alterar o código genético em si. É como se carregássemos um mapa emocional invisível que orienta nossos comportamentos, mesmo quando não temos plena consciência disso. Se sua avó viveu em um ambiente de medo e escassez, essas marcas podem estar inscritas no seu DNA emocional, influenciando como você responde a situações estressantes hoje.
O Peso Invisível dos Traumas de Infância e Adolescência na Genética Emocional
Quando falamos de traumas, muitas vezes pensamos em eventos que ficaram gravados na nossa memória — experiências de abuso, negligência, rejeição ou perdas significativas. Mas o impacto dos traumas da infância e da adolescência vai além das memórias conscientes. Eles podem deixar marcas profundas que influenciam nossa vida emocional, mesmo quando não estamos plenamente cientes disso. E, curiosamente, essas marcas podem estar embutidas em algo ainda mais profundo: a nossa genética emocional.
Traumas Conscientes e Inconscientes: O que a Mente Esconde, o Corpo Lembra

Traumas conscientes são aqueles que conseguimos identificar e nomear — sabemos quando algo nos machucou e podemos relacionar nossos comportamentos ou sentimentos a esses eventos passados. No entanto, os traumas inconscientes são mais sutis e muitas vezes mais traiçoeiros. Esses são eventos que, na época, não processamos completamente, talvez por sermos muito jovens ou porque nossa mente os "escondeu" como uma forma de autoproteção. Mesmo assim, o corpo e o sistema nervoso "lembram" desses traumas, e eles acabam se manifestando em padrões de comportamento, reações emocionais e até em decisões que fazemos na vida adulta.
A Epigenética Emocional: Carregando as Marcas no DNA
A epigenética emocional vem desmistificar a ideia de que o trauma acaba com o tempo. Estudos mostram que traumas, tanto conscientes quanto inconscientes, podem literalmente moldar a expressão dos nossos genes. Isso significa que o trauma pode alterar como nossos genes se comportam, influenciando a forma como reagimos a situações de estresse, como nos relacionamos com outras pessoas e até como lidamos com o nosso próprio corpo.
Essas marcas genéticas não afetam apenas a pessoa que passou pelo trauma. Pesquisas indicam que os efeitos do trauma podem ser transmitidos de geração em geração. Um estudo famoso sobre os sobreviventes do Holocausto, por exemplo, mostrou que seus descendentes tinham padrões de cortisol (hormônio do estresse) alterados, mesmo sem terem passado pela experiência traumática diretamente. Isso revela como os traumas podem ser codificados no nosso DNA e influenciar não apenas a nossa vida, mas a vida de nossos filhos e netos.
O Ciclo de Repetição: Como o Trauma Influencia Nossas Escolhas

A influência do trauma não se restringe a sintomas de ansiedade, depressão ou transtornos de estresse pós-traumático (TEPT). Ele molda a maneira como percebemos o mundo e, portanto, como fazemos escolhas. Indivíduos que cresceram em ambientes inseguros ou que passaram por traumas podem, inconscientemente, se sentir atraídos por situações ou relacionamentos que reforçam seus padrões antigos de sofrimento. Isso não é fraqueza ou falta de discernimento; é o resultado de uma programação emocional moldada pelo trauma.
Por exemplo, uma pessoa que sofreu abandono emocional na infância pode, na vida adulta, escolher parceiros distantes ou emocionalmente indisponíveis. Isso acontece porque, apesar do sofrimento, há uma familiaridade nesses padrões. É como se o cérebro, na tentativa de manter um senso de previsibilidade, procurasse repetir o conhecido, mesmo que seja doloroso.
Entender que esses traumas afetam nossa genética emocional é o primeiro passo para tomar o controle de nossas vidas. Ao abordar esses traumas de forma consciente, podemos escolher, de forma mais saudável, as relações e experiências que realmente nos trazem crescimento e paz interior, pois também eles colocam na nossa vida tendências que são nocivas. Lembrando que este trauma pode ser transgeracional, portanto você pode nem ter sido a pessoa que experienciou esse trauma.
E como isso se conecta às suas escolhas? Bem, esse mapa ancestral pode te levar a escolher relações e situações que ecoam os mesmos padrões de sofrimento ou apego, porque, de alguma forma, é isso que seu corpo aprendeu a esperar. Se não paramos para identificar esses padrões, acabamos repetindo as mesmas decisões, perpetuando um ciclo que não sabemos de onde começou. Por isso, compreender como nossas emoções são moldadas pelo passado é essencial para sair desse "piloto automático" emocional.
Padrões de Apego: O Conforto da Repetição, Mesmo Quando Machuca
Se você já se perguntou por que continua se atraindo por relacionamentos ou situações que claramente não te fazem bem, não ressoam com o seu momento ou não lhe trazem nada que some, a resposta pode estar nos padrões de apego. Muitos desses padrões são formados na infância com base na relação com nossos cuidadores e, infelizmente, tendem a se repetir na vida adulta. Por exemplo, se seus cuidadores eram emocionalmente distantes, é possível que você se sinta atraído por pessoas que têm esse mesmo comportamento ou preferir ser emocionalmente distante em relação a qualquer experiência. Não porque isso é bom para você, mas porque é familiar.
O que é confortável nem sempre é o ideal. Nossos cérebros "se viciam" no que é previsível, mesmo que isso signifique repetir erros do passado. Esse padrão de apego pode criar um ciclo em que a pessoa acaba escolhendo o familiar em vez do saudável, porque o familiar traz uma falsa sensação de segurança. Para quebrar esse ciclo, é preciso coragem para enfrentar o desconforto do desconhecido e buscar experiências e pessoas que promovam crescimento real, criem novas realidades e isso possa trazer a renovação e a cura. Não se criam novas realidades com hábitos velhos.
Processos Cognitivos e Rejeição Saudável: Dizer "Não" É Uma Forma de Liberdade
Aqui vem a grande virada: entender bem as emoções não significa apenas reconhecê-las e aceitá-las, mas também usar nossa capacidade cognitiva para escolher melhor. O truque está em aprender a rejeitar o que não nos serve. Parece simples, mas nem sempre é. Muitas vezes, somos levados a seguir o que gostamos no curto prazo, mesmo quando sabemos que, a longo prazo, isso nos prejudica. Mas aí entra a cognição emocional: a habilidade de usar o raciocínio para identificar quando um padrão está se repetindo e, ao mesmo tempo, ter a disciplina emocional para dizer "não"!
Esse processo de "rejeição saudável" é libertador. Ele nos permite escolher conscientemente o que queremos manter em nossa vida e o que precisamos deixar ir. Rejeitar não é ruim, é um ato de autocuidado. Ao recusar situações ou pessoas que não estão alinhadas com o nosso bem-estar e a nossa evolução, estamos, na verdade, escolhendo por nós mesmos, de forma mais autêntica e sem culpa.
Multiplicidade de Escolhas: A Vida Oferece Muitas Opções, Mas Qual Delas Realmente Importa?
Na era das infinitas possibilidades, fazer escolhas deveria ser algo libertador, certo? Só que, muitas vezes, o excesso de opções nos paralisa. Mais do que isso: acabamos optando pelo caminho que parece mais fácil ou confortável, reforçando padrões antigos que já sabemos onde vão dar. A verdadeira liberdade está em perceber quando estamos sendo levados a repetir escolhas, e, ao invés de seguir por inércia, tomar um caminho diferente.
Quando aprendemos a rejeitar o que não faz sentido, abrimos espaço para escolhas mais conscientes, alinhadas com o que realmente queremos. Esse é o poder da multiplicidade: ela nos oferece várias direções, mas a decisão final depende da nossa capacidade de entender bem as emoções e os momentos e rejeitar o que não nos serve. Se olharmos para nossas decisões com mais intenção, podemos quebrar ciclos antigos e abrir espaço para novas e melhores experiências.
A Química do Apego: Por Que É Tão Difícil Deixar Ir?

Agora, por que, quimicamente falando, é tão difícil desapegar de algo, mesmo quando sabemos que não nos faz bem? A resposta está nos circuitos de recompensa do cérebro, principalmente envolvendo dopamina e oxitocina. Há uma química incrível que acontece no nosso corpo quando estamos em situações ou com pessoas com as quais nos sentimos bem, de alguma forma. Quando estamos apegados a uma pessoa ou situação, o cérebro libera dopamina, o "hormônio do prazer", e oxitocina, o "hormônio do vínculo". Essas substâncias químicas criam sensações de prazer e conforto, associando aquela pessoa ou situação a algo positivo.
Por isso, quando tentamos nos desapegar, nosso cérebro resiste. Ele quer continuar recebendo aquelas recompensas químicas. A ausência desses estímulos pode gerar um efeito semelhante ao da abstinência, levando a desconforto, ansiedade e até angústia. É como se o cérebro dissesse: "Ei, cadê aquela dose de prazer que eu recebo com essa relação ou hábito?". Assim, desapegar não é apenas uma questão emocional; é uma batalha química contra o sistema de recompensa do cérebro.
Esse é um dos principais motivos pelos quais é tão difícil sair de ciclos repetitivos, especialmente em relacionamentos tóxicos ou hábitos prejudiciais. Nosso cérebro está condicionado a buscar aquela "dose" de felicidade que, embora passageira, nos mantém presos a situações que, no fundo, não nos fazem bem. Entender essa dinâmica química pode nos ajudar a ser mais gentis com nós mesmos durante o processo de desapego, sabendo que não se trata apenas de força de vontade, mas também de uma reconfiguração neuroquímica.
Vamos lá, para fechar tudo isso com chave de ouro! Se tem algo que aprendemos com essa conversa sobre traumas, epigenética e a nossa interminável luta entre o familiar e o saudável é que... nós somos, em grande parte, programados. Mas calma, não somos robôs, tá? É mais como se estivéssemos rodando um software emocional, cheio de bugs e traumas herdados, tanto conscientes quanto inconscientes, que ficam lá nos bastidores, controlando nossas escolhas.
E o mais doido? Esses traumas podem estar escondidos no nosso DNA emocional, como se nossos antepassados tivessem deixado um pendrive emocional na nossa genética. Aí, sem perceber, a gente vai repetindo padrões, atraindo aquelas situações e pessoas que, mesmo não sendo boas pra gente, têm aquele ar de "conhecido". Afinal, o que é dolorido, mas previsível, parece seguro, né? #SóQueNão.
Mas o plot twist é que dá para hackear essa programação! Podemos usar processos cognitivos e até emocionais para dar aquele "não" bem gostoso para os padrões que não queremos mais. E ainda podemos entender que nosso cérebro, químico e teimoso, também tem parte nisso: ele quer nos manter nas recompensas de dopamina e oxitocina, dificultando ainda mais o tal do desapego. Mas porque não lhe dar isso? Como? Novas realidades, novas pessoas, novos lugares, novas experiências, e fundamentalmente aprender a definir o que não queremos para nos facilitar o caminho.
No fim das contas, somos uma mistura de histórias do passado, traumas (conscientes ou inconscientes), genética emocional e escolhas que fazemos hoje. Mas, com um pouco de autoconhecimento e terapia, podemos começar a virar esse jogo e, finalmente, escrever um roteiro mais saudável e, quem sabe, mais feliz. Você tem a caneta. Quer mudar o final?